quarta-feira, 18 de abril de 2012

Da cor da infância

Outro dia estava debatendo, numa conversa informal, sobre o que seria a literatura infantil. Afinal, infantil é o público, não o gênero. A discussão foi do mais cotidianamente prático ao mais filosoficamente etéreo.

Como uma simples leitora, tenho para mim que a boa literatura é aquela que é universal, e a literatura infantil – aqui caberiam os filmes e outras manifestações artísticas também – quando atinge esse patamar, chega ao sublime e de uma forma pra lá de elegante: pela simplicidade. E a tal universalidade é mais que esperada, afinal, talvez alguns de nós não cheguemos a ser velhinhos, mas criança, todos fomos.

Quando acabei de ler Os meninos morenos (2004), do querido Ziraldo, que há muito tempo escreve a história do meu imaginário, me lembrei disso na hora. Acho que o autor não deve se perguntar o que é ou não literatura infantil, ele tem jeito de que, simplesmente, escreve como sabe escrever. Não é daqueles que trata a criança como um ser bestial, cheio de moralismo nas palavras, também não acha que vai fazer a revolução das letras com pequenos leitores, tecendo aquilo que não lhes diz nada a respeito. Ziraldo escreve de igual para igual, e isso faz com que sua literatura seja tão agradável quanto verdadeira.

O livro foi inspirado nos poemas do guatemalteco Humberto Ak'abal, que, docemente, descreve o cotidiano dos morenos de seu país. Junto com o autor do Menino Maluquinho, mostra a identidade dos pequenos latino-americanos, que têm todas as cores. Ziraldo faz, naquelas linhas, uma autobiografia de seus primeiros anos de uma maneira muito especial: com alguns toques de fantasia, escreve pequenas crônicas, que vão mostrando pedaços de sua história e de sua identidade.

Mesmo não tendo vivido aquelas situações, é possível se identificar com cada linha ali escrita. Foram muitas as vezes que coloquei carinhas felizes – assim “=)”- ao final das historietas, e olha que eu só faço isso quando gosto muito, muito mesmo do trecho (faço isso até com os textos acadêmicos). Algumas vezes, fiz umas carinhas tristes (que são mais raras ainda em minhas leituras), além ter dado muitas risadinhas abafadas no ônibus e deixado correr algumas lágrimas grossas, quando não dava mais para aguentar.

Eu, que embora branquinha, sou filha de uma bela morena mato-grossense, tingi os olhos e bronzeei a alma, ao longo daquelas 96 páginas coloridas. No dia Nacional do Livro Infantil, deixo aí a minha dica de leitura, para grandes e pequenos – menos para os medianos.

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