terça-feira, 24 de abril de 2012

Quanto vale um escritor?

Uma grande polêmica em torno da Feira do Livro de Bento Gonçalves está na mídia desde ontem. Gabriel o Pensador, rapper e autor de livros infantis, teria fechado um cachê de 170 mil reais para participar da feira, enquanto outros escritores receberiam apenas 1.000.

Por que tanta diferença? Gabriel tem mais apelo na mídia e pode atrair mais público para  feira, mas é necessária tanta diferença entre os cachês?

Reproduzo abaixo duas reportagens sobre o assunto. O que vocês acham?

Cachê de Gabriel o Pensador não incentiva a leitura
Por Sérgio Rodrigues, colunista do site da Veja
23/04/2012

O poeta e frasista gaúcho Fabrício Carpinejar criou um fato cultural mais relevante e atual do que a polêmica entre Caetano Veloso e Roberto Schwarz ao cancelar ontem, por meio de uma carta aberta, sua participação na Feira do Livro de Bento Gonçalves (RS). Motivo: a organização do evento acertou um cachê de R$ 170 mil com o rapper e autor de literatura infantil Gabriel o Pensador, depois de, alegando limitações orçamentárias, fechar com Carpinejar e outros escritores um pagamento de apenas R$ 1 mil.

A questão é relevante porque acende um raro holofote numa zona de fronteira típica do ambiente literário dos últimos anos: aquela em que os velhos valores cabeçudos, introspectivos e desprovidos de vintém da leitura se cruzam com os da sociedade do espetáculo, essa senhora rica, espalhafatosa e desmiolada. Uma espécie de metáfora coletiva do casamento de Arthur Miller e Marylin Monroe.

A tentativa de transformar escritores em atores e livros em objetos cênicos da grande peça que hoje se encena mundo afora, chamada “Celebridades”, tem promovido a proliferação de feiras e “festas literárias” pelo país, na esteira do sucesso da Flip. Isso faz de escritores viajantes contumazes e lhes proporciona uma bem-vinda fonte alternativa de renda. O que é bom, mas esbarra em alguns limites.

Escritores, com raríssimas exceções, fazem uma figura pobre como astros pop. Mesmo quando desenvolvem um estilo performático, ebuliente ou histriônico de se apresentar no palco – e o próprio Carpinejar é um dos que se inclinam por esse caminho – costumam perder para qualquer cantor indie do YouTube. Isso não significa que a literatura esteja fadada à derrota, apenas que ela exige ser avaliada por outros critérios. Não é o que vem ocorrendo.

Em nome do “incentivo à leitura”, promotores de cultura de diversos escalões têm optado por lotar auditórios de gente semiletrada ao contratar um nomão que sirva de isca – é disso que se trata no caso de Bento Gonçalves, embora o tratamento de “nomão” dispensado a Gabriel o Pensador cause estranheza. A suposição é que uma pequena parte do público, como migalhas caindo da mesa do banquete, chegará até as atrações menos dotadas de “celebridade”. Muitas destas aceitam o jogo perverso e participam de eventos do gênero sem ganhar um tostão, contentando-se com passagens e hospedagens.

É uma regra do liberalismo econômico que cada um tem o direito de cobrar por seus serviços aquilo que toparem pagar. Tudo bem. Mas parece claro que um “incentivo à leitura” muito mais sério e eficaz – além de mais barato – seria promover a visita de escritores a salas de aula, por exemplo, combinada com programas de leitura e discussão. O problema é que isso não sai no jornal nem se encaixa na trama de “Celebridades”, aquela peça global.

O caso Bento Gonçalves é uma boa oportunidade de abrir a discussão sobre essas questões. O jornal gaúcho “Zero Hora” vem acompanhando o caso.


Associação de escritores protesta contra cachê de rapper
Gabriel o Pensador vai receber R$ 170 mil para participar da Feira do Livro de Bento Gonçalves

Zero hora

Ganhou novos desdobramentos a polêmica em torno do cachê de R$ 170 mil pago ao patrono da Feira do Livro de Bento Gonçalves deste ano, o rapper Gabriel o Pensador.
Neste domingo, o presidente da Associação Gaúcha de Escritores (AGES), Caio Ritter, divulgou um documento com a posição da presidência da entidade (veja a íntegra abaixo).

O documento questiona os critérios de definição de cachês e de escolha de atrações "midiáticas" para participarem de eventos literários no Estado.
- O objetivo de colocar estes eventos sob os holofotes gera cachês desproporcionais à média dos valores pagos aos convidados locais - constata Ritter.
Um dos 30 escritores convidados da Feira, Ritter confirma sua participação:
- Vou cumprir um acordo firmado com a organização antes do surgimento da polêmica.

Também no domingo, o escritor Fabrício Carpinejar divulgou uma carta aberta à coordenação do evento, anunciando o cancelamento de sua participação:
- Lamento fazer isso por todo amor que guardo pelos leitores da cidade. É meu protesto pelo cachê absolutamente excessivo de R$ 170 mil destinado a Gabriel O Pensador. O artista (que eu admiro) não tem culpa de pedir o valor, porém a prefeitura tem inteira responsabilidade de acatá-lo e não informá-lo da real capacidade cultural do município.

Coordenador da 27ª Feira do Livro de Bento Gonçalves, Pedro Júnior da Fontoura afirma:
- Não estou sabendo de nada (sobre o cancelamento da participação de Carpinejar), mas já imaginava que isso poderia acontecer. Claro que essa é uma questão polêmica, mas vamos nos reunir hoje com o prefeito para decidir o que fazer em relação ao fato.

O prefeito Roberto Lunelli (PT) argumenta que a presença do músico e escritor serviria de estímulo à leitura entre os jovens. O valor inclui participação no evento, show e compra de livros de Gabriel o Pensador.
A respeito das manifestações, Lunelli afirma:
- Não sei de nada sobre esse cancelamento. Vamos ter de analisar o que fazer.


Nota da diretoria da Associação Gaúcha de Escritores

Como se faz uma feira do livro

Gabriel O Pensador receberá, alardeia a mídia, 170 mil reais para ser patrono de uma feira de livro municipal. E aquilo que poderia ser visto como a valorização de um escritor apenas aponta para algo que já vem ocorrendo há muito tempo nas feiras de livro que povoam nosso estado: patronos midiáticos concedem maior possibilidade de que os meios de comunicação voltem seus holofotes para tais eventos. Alguns convidados ganham muitos, outros quase nada. Os motivos para tal diferenciação são os mais variados possíveis. Gabriel é, portanto, apenas mais um. Mas não o único a lucrar por ter sua figura mais explorada que aqueles que “apenas” escrevem. Gabriel canta, dança, produz shows, escreve livros. A maioria dos escritores, todavia, apenas escrevem. E, por só fazerem isso, não conquistam espaço nos programas de auditório da vida, e por só fazerem isso, não recebem cachês milionários. Ao contrário.

Não estranha que Gabriel cobre 170 mil para ser homenageado. Cada um cobra o que quer pelo seu trabalho. O problema maior é quem paga uma exorbitância, a fim de que seu município possa ficar sob os holofotes. Quem dera as feiras se preocupassem em formar leitores, quem dera verbas públicas remunerassem escritores, mas também abastecessem as bibliotecas municipais, escolares e familiares com livros. Só assim estaríamos formando uma geração mais leitora. Todavia, criar cidadãos-leitores não fará com que todos vibrem, cantem e dancem. A literatura não é tão bombástica; é mais silenciosa, menos espetacular.

Há uma tremenda inversão de valores. A prática contradiz os objetivos. Escritores existem aos montes. Muitos deles com capacidade para atrair a atenção dos frequentadores de uma feira de livro, fazendo-os, através de depoimentos de vida e de leitura, potencializar desejos de mais e mais livros. É isso que deveria se pretender quando se resolve realizar uma feira literária: não apenas vender livros ou oportunizar shows de grandes astros. O contato entre autores e leitores, mediados pela leitura do livro (objeto que o poder público poderia adquirir com valores empregados em contratações de astros), é o que se deve promover. Esses encontros é que de fato poderão capacitar crianças, jovens e adultos para que possam desenvolver uma prática leitora crítica e libertária.

Escritores, para quem ainda não sabe, são pessoas que escrevem. E, por escreverem, merecem o respeito de quem é um trabalhador da palavra, devendo, portanto, ser remunerado por isso. Uma remuneração digna, que passa, sem dúvida, pela aquisição de sua obra para que, de fato, um município possa, através de suas feiras de livro - mais do que propiciar momentos espetaculares - promover a leitura, finalidade maior de qualquer estadista que queira uma sociedade cidadã.

Uma feira de livro se faz com leitores e com escritores. Uma feira de livro se faz tratando seus contratados com igualdade. Uma feira de livro se faz destinando o dinheiro público ao seu objetivo maior: formar leitores; promover o acesso aos livros e a discussão em torno deles; qualificar mediadores de leitura através de oficinas, de palestras, de mesas-redondas. Uma feira de livro se faz com livros. É isso que a Associação Gaúcha de Escritores defende. E ponto.

Diretoria da AGES: Associação Gaúcha de Escritores


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Da cor da infância

Outro dia estava debatendo, numa conversa informal, sobre o que seria a literatura infantil. Afinal, infantil é o público, não o gênero. A discussão foi do mais cotidianamente prático ao mais filosoficamente etéreo.

Como uma simples leitora, tenho para mim que a boa literatura é aquela que é universal, e a literatura infantil – aqui caberiam os filmes e outras manifestações artísticas também – quando atinge esse patamar, chega ao sublime e de uma forma pra lá de elegante: pela simplicidade. E a tal universalidade é mais que esperada, afinal, talvez alguns de nós não cheguemos a ser velhinhos, mas criança, todos fomos.

Quando acabei de ler Os meninos morenos (2004), do querido Ziraldo, que há muito tempo escreve a história do meu imaginário, me lembrei disso na hora. Acho que o autor não deve se perguntar o que é ou não literatura infantil, ele tem jeito de que, simplesmente, escreve como sabe escrever. Não é daqueles que trata a criança como um ser bestial, cheio de moralismo nas palavras, também não acha que vai fazer a revolução das letras com pequenos leitores, tecendo aquilo que não lhes diz nada a respeito. Ziraldo escreve de igual para igual, e isso faz com que sua literatura seja tão agradável quanto verdadeira.

O livro foi inspirado nos poemas do guatemalteco Humberto Ak'abal, que, docemente, descreve o cotidiano dos morenos de seu país. Junto com o autor do Menino Maluquinho, mostra a identidade dos pequenos latino-americanos, que têm todas as cores. Ziraldo faz, naquelas linhas, uma autobiografia de seus primeiros anos de uma maneira muito especial: com alguns toques de fantasia, escreve pequenas crônicas, que vão mostrando pedaços de sua história e de sua identidade.

Mesmo não tendo vivido aquelas situações, é possível se identificar com cada linha ali escrita. Foram muitas as vezes que coloquei carinhas felizes – assim “=)”- ao final das historietas, e olha que eu só faço isso quando gosto muito, muito mesmo do trecho (faço isso até com os textos acadêmicos). Algumas vezes, fiz umas carinhas tristes (que são mais raras ainda em minhas leituras), além ter dado muitas risadinhas abafadas no ônibus e deixado correr algumas lágrimas grossas, quando não dava mais para aguentar.

Eu, que embora branquinha, sou filha de uma bela morena mato-grossense, tingi os olhos e bronzeei a alma, ao longo daquelas 96 páginas coloridas. No dia Nacional do Livro Infantil, deixo aí a minha dica de leitura, para grandes e pequenos – menos para os medianos.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Adivinhe quem são!

"Entre com uma história e saia com outra". Esse foi o slogan criado pela agência Lowe/SSP para um evento de troca de livros na Colômbia (Colsubsidio Book Exchange of Colombia). Para ilustrar a campanha, eles criaram três pôsteres; cada um combina dois personagens da literatura.
Você consegue descobrir quais são os personagens?




As respostas estão na seção de comentários deste post, clique lá!

Fonte: Superblog.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Novo livro de J.K. Rowling

Para quem estava se sentindo órfão de J.K. Rowling, a internet hoje está trazendo um alívio.

De acordo com o novo site jkrowling.com, lançado hoje, o próximo livro da autora, The Casual Vacancy, chegará aos EUA e ao Reino Unido em 27 de setembro.

Definido como "o primeiro romance de Rowling para adultos" e "um romance de humor negro", ele conta a história de uma idílica cidadezinha inglesa, Pagford, que se vê envolta em uma guerra quando um querido residente, Barry Fairweather, morre e sua vaga no conselho paroquial vira motivo de uma eleição "repleta de paixão, duplicidade e revelações inesperadas".

"Ricos em guerra com pobres, adolescentes em guerra com os pais, esposas em guerra com os maridos, professores em guerra com os alunos... Pagford não é o que parece à primeira vista."

Curiosos? Que comece a contagem regressiva.



segunda-feira, 9 de abril de 2012

Você tem fogo?

Uma das inúmeras qualidades que um bom livro deve ter é a criatividade. E isso o livro Dois palitos, de Samir Mesquita, tem de sobra! A primeira surpresa do livro é o seu disfarce em objeto banal: uma inocente caixinha de fósforo. A segunda surpresa são os microcontos repletos de humor e sarcasmo.

Esticar um texto é muito difícil. Vocês se lembram dos trabalhos escolares que tinham mínimo de dez páginas de papel almaço e das peripécias que fazíamos para transformar um texto de cinco páginas em um magnífico texto de dez páginas? E olha que não tínhamos os recursos que os alunos de hoje têm, como o gerador de lero-lero:



Porém, encurtar um texto é um desafio muito maior e Samir Mesquita faz isso muito bem.
Pela sua acidez, gosto de um microconto em particular. É este aqui:

Compensação

“Três divórcios.
Odiado pelos filhos.
Mas era ótimo no pôquer.”

É o livro ideal para você abandonar na cozinha de um amigo, sem avisá-lo, e presenteá-lo com uma ótima surpresa.
Parodiando os comentaristas de futebol, digo que, neste caso mais que em outros, “a literatura é uma caixinha de surpresas”.

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