Vim declarar um amor.
Este livrinho pode parecer pouco por ser tão pequeno, mas guarda alguns dos textos mais emocionantes que já li.
Dividido em quatro partes, Histórias de cronópios e de famas é uma daquelas joias para termos sempre por perto, pois é irresistível voltar a ler.
A primeira parte, Manual de instruções, traz descrições engraçadíssimas e poéticas para fazer coisas simples (instruções para chorar, instruções para cantar, instruções para dar corda no relógio).
Um exemplo do texto em Instruções para subir uma escada:
(...) Colocaremos no primeiro degrau essa parte, que para simplificar chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo (também chamada pé, mas não se deve confundir com o pé já mencionado), e levantando-a à altura do pé faz-se que ela continue até colocá-la no segundo degrau, com o neste descansará o pé, e no primeiro descansará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até se adquirir a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé o pé torna difícil a explicação. Deve-se ter um cuidado especial em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé.) (...)
A segunda parte chama-se Estranhas ocupações e conta a vida e as manias estranhas de uma família que, por exemplo, constrói em seu quintal diversos instrumentos de tortura, tem interesse especial em velórios e dedica-se à atividade de pousar tigres (só se sabe que os tigres precisam pousar, não sabemos como foi que levantaram voo).
A terceira parte, Matéria plástica, tem um tema mais difuso. Descreve coisas, pessoas, sentimentos. Sempre os textos curtos, engraçados, poéticos que retratam a realidade sendo decididamente non sense.
Como a descrição das gotas de chuva em O esmagamento das gotas:
(...) Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desprendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada do cair e aniquilar-se. (...)
A parte final, Histórias de cronópios e de famas, apresenta essas curiosas criaturas. Momentos na vida dessas criaturas imaginárias e encantadoras.
Os famas são seres generosos, organizados e muito metódicos.
Os cronópios são seres verdes e úmidos que cantam com alegria e perdem todas as moedas que têm nos bolsos.
Os famas para conservar suas lembranças tratam de embalsamá-las da seguinte forma: após fixada a lembrança com cabelos e sinais (...) a colocam contra a parede da sala, com um cartãozinho que diz: “Excursão a Quilmes”, ou “Frank Sinatra”.
Os cronópios (...) deixam as lembranças soltas pela casa, entre gritos alegres, e andam no meio delas e quando passa alguma correndo, acariciam-na com suavidade e lhe dizem: “Não vá se machucar”, e também “Cuidado com os degraus”. (...)
Pedras preciosas e uma das minhas grandes paixões.
2 comentários:
O Cortáza é realmente genial! Nunca mais subi uma escada sem pensar nesse livro, hehe!
Abraços
Olá Babi,
também é minha grande paixão...se não me engano, eu dei uma edição desse livro pra você.
Eu queria que o blog tivesse o nome de Cronópios, mas quando pesquisei já existia um com esse nome. What a pity!
Post sobre uma obra que não poderia faltar...adorei!
Cumps.
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